terça-feira, 14 de dezembro de 2010

No primeiro debate televisivo das presidenciais, o médico da AMI perguntou ao comunista se já tinha visto «uma criança a tentar tirar pão do bico de uma galinha». Lopes já tinha visto e contra-atacou, tentando comprometer a independência e coerência do adversário. Um debate aguerrido, avaliado pelo director do SOL, José António Saraiva, o director-adjunto, José António Lima, o subdirector Mário Ramires e o coordenador de Política Manuel Agostinho Magalhães, numa escala de 0 a 20.

O primeiro de frente-a-frente televisivo das presidenciais foi um verdadeiro debate. Fernando Nobre e Francisco Lopes atacaram-se mutuamente, com vigor, e poucas vezes falaram de Cavaco Silva. Ambos invocaram o seu passado para apelar ao voto e Francisco Lopes tentou desde o início comprometer o adversário com o PS e o PSD. Nobre retorquiu com a sua independência: nunca alguém fora da política e que «não fosse um general» tinha tido coragem de correr para Belém, como ele faz agora.
A primeira discussão versou o ataque à pobreza. O presidente da AMI apresentou-se como alguém que sabe o que é a miséria, dizendo que Lopes era um «teórico» no assunto.
«Já viu uma criança correr atrás de uma galinha para tirar o pedacito de pão que levava na boca?», perguntou. Lopes disse que sim. «Eu conheço a pobreza e a imagem da galinha», garantiu, acrescentando que «ir descalço para a escola» era outra recordação da sua juventude.
Durante o debate, moderado por Judite de Sousa, na RTP1, foram vários os momentos em que Nobre lembrou a sua experiência em teatros de catástrofe e tentando passar a imagem do comunista como um «político de corredor».
«Não é qualquer um que esteve em Beirute em 1982. Eu pratiquei actos que valem mais que mil palavras», argumentou. Nobre esteve sempre ao ataque: «O Sr. Francisco Lopes sabe o que é alguém morrer nos seus braços? O que é ver um corpo esmagado num terramoto?». O médico haveria ainda de falar no seu bisturi para protestar, mais à frente que nada o comprometia com o actual estado de coisas.
O candidato do PCP tentou explorar contradições no discurso do adversário, citando uma entrevista ao SOL em que Fernando Nobre defendia que o Serviço Nacional de Saúde deixasse de ser universalmente gratuito e lembrando uma declaração sobre o actual Orçamento do Estado, que Nobre definia como «O Orçamento possível». Nobre tentou negar ambas.
As ligações a Mário Soares cujo «apoio procura», e anteriores apoios do médico a Durão Barroso e a António Capucho serviram ao comunista para retirar do campo da esquerda o adversário.
Neste despique que atravessou o debate, Nobre procurou colocar Lopes como um instrumento do PCP, sem vontade própria, escolhido «por um comité central». Lopes, acusou, «pertence a um sistema politico caduco e retórico» que colocou Portugal na actual situação.
Sobre os poderes presidenciais, Nobre garantiu que tudo faria para «não dar posse a um governo minoritário», enquanto Lopes deu a entender que não teria problemas em usar da bomba atómica da demissão do Governo para «provocar uma ruptura de política».
Em matéria de propostas, o médico da AMI foi mais concreto que o adversário. Defendeu um salário mínimo europeu e a criação de um segundo conselho de Estado, formado por jovens e a redução do Parlamento para 100 deputados.
Num debate truculento, até ao fim, Francisco Lopes insistiu em voltar a falar para compensar a diferença de tempos, que o desfavorecia. Judite de Sousa ainda tentou convencê-lo que já tinha tido oportunidade de fazer a sua declaração final. Mas acabaria por anuir. Nobre lamentou-se: «O sr. abriu e fechou este debate».
Quinta-feira segue o ciclo de frente-a-frente, novamente na RTP1: Defensor Moura e Manuel Alegre defrontam-se, no mesmo cenário de fundo negro e mesas metálicas.

Jornal Sol
Por Manuel A. Magalhães
14 de Dezembro, 2010

Fernando Nobre diz que é o orçamento possível.

O candidato à presidência da República, Fernando Nobre, considerou hoje que o Orçamento de Estado para 2011 «não é o que convém à população portuguesa» mas é «o orçamento possível».
Fernando Nobre disse esperar que em discussão na especialidade «possam ser introduzidas muitas melhorias, porque tão importante quanto responder à pressão externa, à questão do défice é não agravar a vida dos portugueses».
Acrescentou ainda que «toda a gente já reconheceu que este não é um bom orçamento, é um mau orçamento que vai penalizar a vida a milhões de portugueses».
Fernando Nobre falava aos jornalistas à margem de um concerto da pianista Sara Mendes a que assistiu no Cine-Teatro Brazão, em Valadares, Vila Nova de Gaia.

Lusa / SOL
31 de Outubro, 2010

1 comentário:

  1. O povo português deveria 'correr' com os políticos carreiristas que atiraram com o País para a miséria e votar em Fernando Nobre, cuja independência é um garante de denúncia do compadrio, da corrupção e do oportunismo que destruiu a economia nacional!

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