segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Defensor diz que 'é muito pesado para ser lebre' de Alegre

O ex-autarca de Viana negou que fosse a guarda avançada de Manuel Alegre, mas contou que após o debate com Cavaco recebeu telefonemas de felicitações do PS e até do PSD. Fernando Nobre criticou os ataques «insultuosos» que o adversário tem lançado.
No combate dos dois médicos, dois candidatos que nenhum partido apoia, mas sobre os quais há quem suspeite que servem os interesses de outros actores politicos, o debate foi dominado pela imagem que ambos deixaram em debates anteriores e pelo tema mais quente da pré-campanha: a ligação de Cavaco Silva ao caso BPN.   
O ex-autarca da câmara de Viana do Castelo começou por dizer que tem sentido «muito carinho e muita solidariedade» dos seus camaradas de partido. E essa solidariedade atingiu o auge após ter irritado Cavaco Silva, no frente-a-frente que teve com o PR, em que o acusou de falta de ética na ligação ao BPN.  

«Depois do debate recebi muitos telefonemas até de pessoas do PSD e também da esquerda, do PS, por ter dito a Cavaco Silva o ninguem tinha tido coragem de lhe dizer».   
Questionado se era uma 'lebre de Manuel Alegre', fazendo a campanha que o candidato oficial do PS não pode fazer, Defensor Moura negou, ironizando. «Sou muito pesado para lebre. Faço a minha corrida própria», afirmou, na resposta a Judite de Sousa.   
Sem momentos de grande tensão, o debate na RTP foi-se povoando de 'picardias', tendo como base a imagem que os candidatos tinham deixado em anteriores debates.   
Fernando Nobre acusou Defensor Moura de lançar ataques pessoais sem fundamento.   
«A sua independência não lhe dá autorizaçao para lançar ataques por vezes insultuosos», disse Nobre, pouco depois de se ter recusado a comentar as ligações de Cavaco Silva à administração do BPN. «Eu não faço ataques ad hominen neste debates», disse Nobre, remetendo para «a justiça» que «é livre para actuar» qualquer suspeita.   
Logo a abrir, o presidente da AMI, questionado sobre se Defensor Moura era parte do sistema «caduco» contra o qual se candidatava, lançou uma indirecta: «Devemos acabar com a maldicência, com acusações estéreis e falar pela positiva».   
Defensor Moura não se ficou. Disse que era importante que os candidatos não se «ficassem por sonhos» e «críticas ao de leve» sustentassem as suas propostas. Deixou no ar a ideia de que Nobre não sabia do que falava quando propunha a redução do Parlamento para 100 deputados (Defensor é actualmente deputado do PS): «Fala de Espanha, mas não conta que aí há parlamentos regionais».   
Fernando Nobre, em pouco tempo, passou a defender-se dos ataques de que diz tem sido vítima, por não ser político. «Eu não digo coisas no ar, digo coisas concretas. Quando faço propostas sou apelidado de demagogo, enquanto os outros, que são políticos profissionais, quando as fazem, são considerados estadistas».   
Nobre também lamentou estar a ser atacado pelos opositores e comentadores por invocar o seu currículo.   
«Eu não posso falar do meu passado nem do meu futuro. Parece que eu desci ao planeta terra aos 59 anos [a sua idade actual]». Nobre acha que «a classe politica não gosta de ver os cidadãos a intervir» e prometeu, se for eleito, «abrir Belém» aos cidadãos.   
Defensor Moura aproveitou para atacar. «Eu tive uma educação cristã», disse, valorizando o valor da solidariedade com os mais desprotegidos. Mas, ressalvou: «Agora dá-se com a mão direita e tem-se uma campaínha na mão esquerda a dizer que se dá».   
Prosseguindo o contra-ataque, proclamou que «a política é uma actividade nobre» e referiu uma entrevista em que o adversário terá contado que o pai considerava a politica «uma porcaria» contrapondo que o seu progenitor tinha sido mandatário de Humberto Delgado. E concluiu a tirada: «Não me vou gabar de ser mais solidário nem de ser patriota».   
Nobre não gostou, mas conteve-se. «Citou o meu querido pai.. numa coisa estou de acordo consigo, acredito que a gestão da coisa pública seja nobre».   
Falou-se do Orçamento do Estado, confirmando-se que o actual OE 2011 divide os candidatos. Nobre não o aprovaria, porque prejudica «os idosos» e os jovens. Defensor disse que «não havia outra saída», por isso aprovou-o como deputado do PS e, se estivesse em Belém, assinaria a sua promulgação.   Sobre o BPN, ambos concordam num ponto: o dossier tem de encerrar rapidamente. A ser preciso financiar o banco, os 500 milhões de que se fala terão de ser «a tranche final».   
Nobre disse-se convicto de seguir em frente depois de 23 de Janeiro, mas resistindo a considerar Cavaco Silva o seu adversário principal. «Estou aqui para chegar a segunda volta e para derrotar Cavaco na segunda volta», lá admitiu, mas ressalvando que o actual PR não é um adversário: «Não gosto dessa palavra, prefiro opositor».   
Já Defensor tem uma convicção ligeiramente diferente. Ele vai contribui para haver segunda volta, contra Cavaco. «O meu eleitorado será predominantemente de abstencionistas, de centro esquerda, os descontentes com Alegre, é nessa gente que estou a apostar». Sobre as sondagens o colocarem em último lugar, retorquiu: «As sondagens foram feitas antes de as pessoas me conhecerem».   
Como grande projecto político, o ex-presidente da câmara de Viana do Castelo insiste na regionalização, capaz até de poupar dinheiro ao Estado. «A regionalização não vai aumentar o número de funcionários públicos, vai é aproveitar funcionários sub-aproveitados», disse.   
Sobre a fonte da responsabilidade de uma possível intervenção do FMI - da qual Cavaco Silva se demarcou, atribuindo a culpa ao Governo, se vier a acontecer - Defensor Moura mostrou que está nos antípodas do PR.  
«A culpa deve ser assacada a todos. A quem não paga os impostos, a quem mete baixas fraudulentas», disse, concluindo que a culpa pela crise «não é uma culpa terminal, é acumulada há muitos anos».   
Já Fernando Nobre, citando o exemplo do que está a acontecer com a Irlanda, considerou que a vinda do FMI «seria uma tragédia para Portugal». Mas considerou que, com os poderes do PR, poderia fazer «pouco» perante um facto consumado.   
De seguida responsabilizou os governos e os deputados por virem a aprovar orçamentos que agravam a situação do país, que vive «acima das possibilidades». Defensor Moura ressalvou que «nem todos vivem acima das responsabilidades» e terminou dizendo que não há medidas económicas que debelem a crise se não se resolver os «cancros da corrupção e do clientelismo» e se abandonar o centralismo.   
O médico da AMI usou a sua declaração final (neste seu último debate televisivo) para apelar ao voto de forma directa. «Não tenham medo do sistema triturador, levantem-se e votem no dia 23 de Janeiro».  
O próximo debate, amanhã, é o penúltimo da série de dez. Colocará frente-a-frente Francisco Lopes e Defensor Moura.   

Jornal o Sol.
Texto por Manuel A. Magalhães
27 de Dezembro, 2010

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